“Nesse período de transição, no qual nos cabe viver e operar, por longo tempo, deveremos nos dispor a escrever com uma mão a palavra universalidade, e com a outra a palavra diferença. E, por longo tempo, deveremos resistir à tentação de escrever ambas as palavras com apenas uma mão. Por que seria, em todo caso, a mão errada”.
(MARRAMAO, La passione del presente)
Se é certo que a vocação da democracia, enquanto instituição político-cultural típica do ocidente, está dada – como bem o sabiam Tocqueville, Marx e Weber – pela cifra do desenraizamento, sua definição mais congruente será a de lugar comum do desenraizamento. Só a partir daqui – desta reativação que é também uma maneira alternativa de repensar o potencial da tradição – se abre a possibilidade de um cotejo com as ‘alteridades’ culturais em condições de escapar dos opostos e especulares riscos do universalismo hegemônico e do relativismo. A democracia – e somente a democracia pode ser chamada comunidade paradoxal, comunidade dos sem-comunidade. Não apesar, mas precisamente em virtude de suas regras formais que, ao limitar a taxis, a esfera de exercício do poder, garantem o desenvolvimento autônomo das esferas de vida. A democracia é sempre ‘por-vir’, justamente por que nunca sacrifica à utopia de uma tradição absoluta a opacidade da fricção e do conflito. A democracia não goza de um clima moderado, nem de uma luz perpétua e uniforme, justamente por que se nutre daquela paixão do desencanto que mantém unidos – em uma tensão insolúvel – o rigor da forma e a disponibilidade para receber ‘hóspedes inesperados'”.
(MARRAMAO, Passaggio a Occidente)
Sobre o Autor
GIACOMO MARRAMAO é Professor Emérito de Filosofia Teorética e Filosofia Política da Università degli Studi di Roma TRE. Doutor em Filosofia pela Università degli Studi di Firenze e Fellow da Alexander von Humboldt-Stiftung no Departamento de Ciências Sociais da Universidade de Frankfurt. É Diretor da Fondazione Basso e membro do Collège Internacional de Philosophie de Paris. Professor honoris causa em Filosofia da Universidade de Bucareste. Professor visitante em inúmeras universidades europeias, americanas e asiáticas. Em 2005, recebeu da República Francesa a comenda “Palmes Acadèmiques” e, em 2013, da Universidad Nacional de Córdoba/Argentina o doutorado honoris causa em Filosofía y Lenguas.
Avaliações
Não há avaliações ainda.